sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

   O livro de Jon Kabat-Zinn ainda não tem tradução para o português. Mas é uma obra-prima para quem se interessa pela arte da Atenção Plena. "Wherever you go, there you are", ou: "Onde você for, lá você estará".
   Gostaria de compartilhar com vocês esta tradução livre de um trecho da parte três do livro! Espero, de coração, que possam se beneficiar dessas palavras!

     Sentado ao lado do fogo

   Nos velhos tempos, quando o sol se punha, a única fonte de energia que as pessoas tinham, além da mudança da lua e do firmamento das estrelas, era o fogo. Por milhões de anos, nós, seres humanos sentamos ao redor de fogueiras, olhando para as chamas e para as brasas com frio e escuridão em nossas costas. Talvez aí tenha sido onde a meditação formal começou.
   O fogo era um conforto para nós, nossa fonte de calor, luz e proteção - perigoso, mas, com muito cuidado, controlável. Sentar perto dele, trouxe-nos relaxamento no final do dia. Em sua quente, cintilante luz, nós podíamos contar histórias, e contar sobre o dia que passou, ou somente sentar silenciosamente, vendo o reflexo de nossas mentes nas chamas em constante mudança, e as brilhantes paisagens de um mundo mágico. O fogo fez da escuridão suportável, e nos ajudou a nos sentirmos seguros e a salvo. Era calmante, confiável, restaurativo, meditativo e absolutamente necessário para a sobrevivência.
   Essa necessidade veio de nosso dia a dia, e com isso quase todas ocasiões de ficar quieto. No ritmo acelerado do mundo de hoje, fogueiras são impráticas ou uma ocasião de luxo para definir um certo humor. Nós temos somente que virar um interruptor quando a luz de fora começa a diminuir. Nós podemos iluminar o mundo o tão claro quanto queremos e seguir nossas vidas, preenchendo todas nossas horas acordados com trabalho, com o fazer. A vida nos dá um tempo escasso para ser hoje em dia, a menos que o aproveitemos propositalmente. Nós não temos mais um tempo fixo quando temos que parar o que estamos fazendo porque não há luz o bastante para fazer isso por... falta-nos que antigamente construíamos o tempo, nós tínhamos toda a noite para trocar as engrenagens, para deixar de lado as atividades do dia. Nós temos poucas e preciosas ocasiões hoje em dia para a mente descansar na quietude de um fogo.
   Ao invés disso, assistimos televisão até o final do dia, uma pálida e elétrica energia do fogo, e pálida em comparação. Nos submetemos a um constante bombardeamento de sons e imagens que vem da mente de outros e não de nós mesmos, que enchem nossa mente de informação e trívia, aventuras e alegrias e desejos de outras pessoas. Assistir televisão deixa ainda menos espaço no dia para experenciar a quietude. Absorve o tempo, o espaço e o silêncio, que nos causa sono, embalando-nos numa passividade sem sentido. Como Steve Allen chamou: "Chiclete para os olhos". Jornais fazem o mesmo. Eles não são ruins em si, mas nós frequentemente conspiramos para usá-los para roubar de nós muitos preciosos momentos os quais poderíamos estar vivendo por inteiro.
   Acontece que nós não temos que sucumbir aos apelos viciantes de absorções externas em entretenimento e distrações apaixonantes. Nós podemos desenvolver outros hábitos que nos trazem de volta ao anseio elementar dentro de nós, para o calor, a quietude e a paz interior. Quando sentamos com a nossa respiração, por exemplo, é como sentar ao redor de uma fogueira. Olhando profundamente para a respiração, nós podemos ver no mínimo tanto quanto em um carvão brilhante e chamas e faíscas, reflexões da nossa própria mente dançando. Um certo calor também é gerado. E, se realmente não estamos tentando chegar a lugar algum, mas simplesmente nos permitir estar no momento como ele é, podemos tropeçar facilmente em uma quietude antiga - por trás e dentro da peça de nossos pensamentos e sentimentos - que em uma época mais simples, as pessoas encontravam sentando ao redor de uma fogueira.

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